quinta-feira, 16 de março de 2017

Eu

Desconfio que a única coisa que
me mantém viva
seja a poesia.

Não mantém a carne
nem poderia
Mas todo o resto que
há por dentro e
me diferencia.

Desconfio 
que tudo o que bate 
e funciona em mim
Rega e rege 
o que há aqui
São palavras e olhares
que surgem
enfim.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Silêncio no relento!

Tendo em vista meus olhos tristes,
ando muito bem.
Levando em conta a coluna torta,
nada ruim me convém...

Haja paz para o meu coração
VORAZ!
Doente...
O amor sara o peito, mas
E A MENTE?

Tendo em vista meus olhos tristes
E as palavras poucas
E o sorriso frouxo
E o amor sem gosto
Está tudo bem...

A criança não canta!
Nem mais o palhaço ri.
As mãos não mais escrevem
E a MENTE sequer descansa,
mas

Um passo encantado e
está tudo bem,
ENFIM.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Busca insensata

O sentido exato
da exatidão contemporânea
A que se dá?

O velho riso frouxo
ao triste simplório gosto
do vindo perdido
Rompido deletério
esquecido
pelo tempo,
Tempo Rei
DA VIDA.

O sentido exato
a que se dá?
de que se vem?

Uma busca vã
de algo perdido
que se perdeu
ou não se sabe
exatamente
se aconteceu.

Uma busca!
Está-se a buscar
O que?
Não se sabe.

... O pretérito imperfeito
das causas perdidas
Obras desfalecidas
de um futuro que não vem!

A que se dá?
o frouxo do riso
o triste grito
do que
NUNCA
vem?

domingo, 8 de setembro de 2013

Sintoma I

Rasgar-se-ão as cartas
e todos os outros papéis
que guardam em si
a caligrafia torta
cujas palavras
mataram
e causaram dor,
Aliciaram o ego
transbordaram afeto
e gritaram o grito
incompreensivo
Agora proibido
que traz à mente
o teu nome em grego.

Misturar-se-á
a cor da água
ao vão
das mesmas palavras
já murchas
e dos toques
que perduram
e insistem
em maltratar.
O incolor da água
ao inóspito de teus rios
lacrimais
ao vão de teus pensamentos tolos
e das falas
injustificáveis...
Inacabáveis.

[Sobre o meu terno seio
contou fascínios tantos!
O leito guarda ainda o cheiro
do teu corpo amarelo,
de teus pretos pelos.]

Fecham-se os olhos
num piscar lento
e há vontade de não mais abri-los
e de dormir
e de sonhar...
e de não mais precisar
ter-te
aqui...
ao lado de meu corpo frio
fazendo de meu gozo
rio.


quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Protesto

Eis o vão!
Meu peito enrudecido e aberto
Grita a ternura em falta.

O vão!
Eis, então,
A aventura perplexa
O devaneio, em festa,
Faz sorrir a palestra.
(amontoado inútil,
multidão calada
mal colocada
mal revestida
de palavras
VÃS)

Eis o sentido
Ou a sua falta.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Fascínio

A mocidade dos seus lábios
O calor intenso de seus maços
esquecidos;
tragados;
Jazidos no infinito de seus olhos
claros
Como o sol de toda manhã.
Seu corpo conduz-me
à indecência
Retorce o meu riso
em pura inocência
peculiar a quem abdica
da dor.
São seus dois olhos!
Astros.
Claros rios cálidos
de cuja opacidade
tem capacidade
de tomar toda
e qualquer
realidade
que cerque
ou meça
a minha lisonja.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Coito

Põe tua mão sobre o meu dorso
Faz passear tua língua molhada
até sentir o meu gosto
de pele branca e amarga.

Teu dedo morno
acalentando meu lábio frio
Gozando
de mais um gozo
do meu rio.

Teus olhos soltos
vagando pelo quarto
escuro
Mil e um muros
que a vereda espanta
Numa voz que canta
para a minha alma sorrir.

E num instante único
nosso sonho é mártir
da realidade farta
do tempo que passa
do instante que esvai
e é peça
fundamental
do descaso causado
pelo desatino matinal
do eco da tua voz
que inexiste.

Mas o teu beijo doce
e os pelos do corpo
e o gosto que perdura
e o rosto
solto em meu pensamento
Fazem-me desatento
ao fim do derradeiro alento
que antecede ao gozo.

O suor que escorre -
fruto duma noite enorme
que encurta a vida em três partes
[ - o antes
- o durante
- o depois]
É desfecho.
É suspiro.
Quase morte.

A tua voz é pura sorte.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Dois/Dos Mundos

Quero ocultar do lábio
o triste vulto de solidão.
A voz que inebria enriquece enaltece
é fervura terna ao meu soluçar

O tenso instante em que me busco
me acho me perco destrato
A existência macabra e solitude
Me lembra do tempo criança
em que dois pés corriam o mundo
e dois mundos corriam de pé

Que mundo subalterno e sensato!
Traz consigo contradição e o diacho
Que mundo perdido traído calado?
Triste elo entre meus dedos.

Que saudade dos tempos longínquos!
Que me arrancaram a paz e o espírito
Que me plantaram loucura e vastidão no pranto...

Que triste a veemência de meus lábios!
calados são triste reflexão
Crise
Que beira, enaltecida, a existência.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Viagem

E se nos encontrarmos em recaída
e sob braços alados, embarcarmos em dor
- dor esta que, sem rumor algum, recobre o peito escasso
e torna-se refém dum pudor abstrato
que retém o cruel significado
do meu e do teu calor?
E quanto aos dedos que deslisam
- hirto mastro
que cobrira
de líquido o meu corpo…?
Sob o lençol, profundo sopro
do raso oxigênio absorto.
E se teus olhos me pedirem
volta
e teu calor me prender,
escolta! os males em teu aguardo
e o amargo gosto do fel
que atiça a língua malévola
passeia livre
por entre os santos campos
remotos.
E se
meu beijo te acender a chama
e meu seio ascender a cama…
Se creio uma vez que me ama!
despenteio de uma só vez
a dama.
Aclama! que o grito já exposto
é drama.
E se
tu fores, ainda assim,
me chama?